Os restaurantes que homenageiam Maradona em Buenos Aires são opostos e mesmo assim o representam igualmente

Maradona se foi há três anos, mas segue imortal em uma Buenos Aires que homenageia de todos os jeitos, até mesmo nos mais opostos restaurantes

Diego Maradona é o mote de inúmeros estabelecimentos de Buenos Aires, que atraem turistas de toda parte do planeta, em especial após a morte do ex-jogador, em 2020. Dentre os muitos, dois restaurantes se posicionam como “oficiais” do astro, com propostas tão diferentes quanto possível. Mas que, aos seus modos, conseguem refletir facetas do ídolo.

“Lo del Diego” é um bar/loja/museu clássico dentro da estética do “Caminito”, no bairro de La Boca, a poucos quarterões de La Bombonera. O pequeno conjunto de vielas ultraturísticas repleto de casebres coloridos, com decorações antigas e uma indefectível organização cafona, grita “pague mais do que o necessário por qualquer coisa” incessantemente. E “Lo del Diego” não foge à regra.

Já o minimalista, sóbrio e indiretamete iluminado “Igual a Nadie” (Igual a ninguém) tem uma proposta completamente diferente. Localizado em Belgrano, na outra ponta da Capital Federal, é o 1º restaurante oficial licenciada do ex-jogador. Sua inauguração, com pompa, em julho, levou familiares e celebridades ao espaço anexo à estação de metrô Barracas de Belgrano, onde funciona uma espécie de polo gastronômico para os jovens e modernos da cidade, às portas do Bairro Chinês.

A Trivela visitou os dois lugares para tentar entender o que havia de Diego Maradona em cada um deles. E, curiosamente, a despeito das diferenças notáveis, sentiu que algo do ídolo estava presente em ambos.

Muito para olhar, muito para comprar

“Lo del Diego” é um festival de estímulos, desde a fachada. No melhor estilo do bairro, traz um letreiro enorme em um estilo tradicional e uma estátua de Diego em tamanho um pouco menor que o natural no terraço externo.

Entrar no estabelecimento não é para os fracos. A profusão de sons, cores e cheiros não deixa ninguém indiferente. Há camisas do Boca Juniors e da Argentina à venda para todos os lados. Mas não só. Réplicas de peças usadas por ele no Newell’s Old Boys, Napoli e Barcelona, bem como dos clubes que dirigiu, como o Ginmnasia La Plata e Deportivo Mandiyú também podem ser compradas.

Aliás, mais do que o futebol, o esporte realmente celebrado por lá é o “comprar”. Toda sorte de quinquilharias alusivas a Maradona podem ser adquiridas. Imãs de geladeira, aventais de churrasqueiro, jogos de pratos e copos, toalhas. Tem de tudo.

Lo del Diego é um restaurante mais popular que respira Maradona (Diego Iwata/Trivela)

Pelos três andares com piso de grama sintética, imagens clássicas e momentos marcantes do jogador estão retratados em recortes e reproduções de capas de jornais e revistas. No sistema de som, cantos famosos da torcida do Boca e da seleção tocam sem parar.

No menu, nada de muito especial para além dos itens básicos de qualquer lanchonete portenha. Sanduíches de linguiça (Choripán), de chouriço (morcillas, as linguiças de sangue bovino) e outros itens menos argentinos mas igualmente difundidos por lá, como as hamburguesas (hambúrgueres), cachorros-quentes, papas fritas e pizzas.

O Maradona ali presente é aquele sem camisa e transtornado, dependurado de seu camarote no estádio xeneize. Aquele nascido e criado em Vila Fiorito, que, mesmo depois de ficar milionário e frequentar os lugares mais caros do planeta, ainda se sentia mais em casa quando fazia as coisas mais simples.

Uma franquia maradoniana

A localização do “Igual a Nadie”, que fica sob um viaduto do metrô, é curiosa por mais de um motivo. À esquerda do restaurante envidraçado, fica o pórtico de entrada do Barrio Chino, uma espécie de Chinatown/ Liberdade da cidade de Buenos Aires. À direita, a Avenida del Libertador e, à frente, o Parque Barrancas de Belgrano.

Belgrano, para cujas imediações o River Plate se mudou após deixar La Boca, é um bairro nobre, com um quê de vizinhança abastada, no mesmo estilo, por exemplo, de Higienópolis, em São Paulo. Prédios imponentes no estilo clássico dividem espaço com novos empreendimentos de alto padrão, construídos às custas de edifício menores irem para o chão.

Franquia é a versão nobre de restaurantes que homenageiam Maradona (Diego Iwata/Trivela)

Igual a Nadie é licenciado pelos proprietários da marca Maradona e seus familiares. Sua atmosfera lembra restaurantes sofisticados, como os da rede Asia de Cuba, Ritz e outros similares. Em vez de camisetas de time, além da comida, o empreendimento vende peças low profile.

O grande destaque dos itens expostos no salão para venda, em uma vitrine discreta e embutida na parede e iluminada, no estilo gruta, é uma camiseta inteiramente branca, com exceção da palavra Maradona estampada na pequena na altura do peito, do lado direito.

A proposta do menu é trazer itens que lembrem as cidades pelos quais o ídolo passou. Há massas e pizzas para lembrar Nápoles, pratos com frutos do mar à moda de Barcelona e, claro, carnes assadas à moda argentina. Além de alguns trocadilhos com homenagem a momentos da vida do jogador.

O Bife Wellington servido por lá chama-se Bife Shilton, em homenagem ao goleiro inglês Peter Shilton que sofreu os dois gols mais célebres da carreira de Diego: “La mano de Diós” e “El gol del siglo”, na Copa de 1986.

A ideia dos seus proprietários é levar Igual a Nadie para vários países, como uma franquia. Nesses restaurantes, o que se vai encontrar é um Maradona que já tinha virado estrela de primeira grandeza, para o qual não faltava recurso para usufruir os regalos que o dinheiro compra – para o bem e para o mal.

E isso também é Diego Maradona.

Redação Jornalística
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